Meu histórico como corredora

Já faz um tempo que a corrida e eu vivemos um relacionamento conturbado. Comecei a correr em 2008 e desde então nunca fiquei um período muito longo ser calçar o tênis e correr. Em alguns momentos com mais intensidade, outros com mais dificuldade, mas sempre firme, mesmo quando invento de aprender alguma outra modalidade esportiva.

Há mais ou menos 5 anos comecei a treinar com orientação, aprendi o que era intervalado, fartlek e termos que muito provavelmente um corredor que segue uma planilha conhece bem. E, como era de se esperar, comecei a evoluir. Melhorei meus tempos nos 5, 10 e 21k. Até aí, tudo bem.

Me considero uma pessoa regrada. Se o treinador me pede para correr de um jeito, tem uma razão… Consequentemente, o meu objetivo vai ser seguir à risca o que foi pedido. Porém isso pode ser bom ou ruim.

Minha 1ª Corrida em 2011

Contextualizando

Vamos fazer um paralelo com gerenciamento de projetos, que é o que trabalho. O meu papel dentro do time é garantir que entregamos para o nosso cliente o que foi pedido dentro do prazo, do orçamento e, é claro, com qualidade. Para isso fazemos um planejamento! No framework que usamos esse planejamento costuma ser feito para as próximas 2 a 4 semanas. Vamos considerar 4 semanas, pois é mais ou menos como funcionam algumas planilhas de treinamento.

Com um planejamento para as 4 semanas em mãos e todos de acordo, iniciamos o desenvolvimento. Porém, por melhores que sejam os desenvolvedores, é impossível prever todos os cenários possíveis! Pode aparecer uma questão técnica como impedimento, um bug de produção que precisa ser corrigido, alguém ficar doente, enfim, qualquer coisa que nos faça ter que repensar e replanejar.

Voltando aos treinos

Com os treinos não é muito diferente. Por mais que planejemos a nossa semana, muita coisa pode acontecer. Um imprevisto no trabalho, uma noite mal dormida, uma lesão.

Assim como no desenvolvimento de um aplicativo para celular, muitas vezes replanejar é muito melhor do que tentar acomodar as mudanças e entregar com menos qualidade.

Por isso eu disse que ser regrada pode ser bom ou ruim.

Se por um lado ser uma pessoa que gosta de cumprir o que está planejado me faz evoluir na corrida, por outro, em alguns momentos, posso esquecer de ouvir o corpo. Talvez depois de uma noite mal dormida é melhor não fazer um treino intervalado tão forte.

Com isso, acabei levando uma rigidez para os meus treinos que tirou todo o prazer que eu tinha durante os treinos. A corrida passou a ser um peso. Pular um treino ou mesmo não conseguir seguir à risca o que foi pedido passou a ser fracasso.

Com os treinos encaixando direitinho, passei a ter bons resultados nas provas aqui na minha região. Comecei a colecionar alguns troféus. Até aí, mais uma vez, tudo bem. Estava treinando direitinho. O problema foi quando virei a chave para: “Eu tenho que correr bem”.

Passei a ficar muito ansiosa no dia anterior e na prova. Corria o tempo todo no meu limite e contando quantas mulheres tinham na minha frente. Não conseguia mais me sentir bem nem antes, nem durante e nem depois das provas.

Cheguei a correr o meu melhor tempo em uma Meia Maratona, mas por não ter conseguido correr no que havia planejado, não me senti feliz com o recorde pessoal.

Veja bem…

Consegue perceber que o problema não é treinar regrado ou se propor uma rotina de treinos e alimentação? O problema é não aproveitar o processo. É colocar o atingimento das metas como o principal propósito.

Atingir ou não meta na corrida passou a ser para mim sinônimo de sucesso ou fracasso. Vamos deixar bem claro que não é problema você colocar uma meta. É o que essa meta representa para você. Qual é o impacto que ela vai te trazer física e psicologicamente.

Acho que consegui explicar o porquê eu e a corrida estamos em um relacionamento conturbado tentando conversar melhor para ajustar os ponteiros. Mas queria deixar essa reflexão pública, pois vejo que não sou a única maluca que está passando ou passou por isso. Estamos vivendo em um mundo frenético onde sempre somos cobrados de entregar mais. Se começarmos a nos cobrar para entregar mais até em algo que deveria ser um momento de descontração, lazer, saúde… não preciso dizer o que pode acontecer.

O caminho é longo e ainda não sei qual é. Mas seguimos correndo, literalmente, atrás dele.

Fico por aqui.
Até mais!
Tina

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